Inadimplência das famílias paulistanas volta ao patamar de 20%

A proporção de lares paulistanos endividados passou de 53,6% em fevereiro para 55,1% em março, elevação de 1,5 ponto porcentual (p.p.) no mês e 0,3 ponto porcentual no comparativo anual. Já a inadimplência, que desde outubro não atingia 20%, em março chegou a 20,1%, alta de 0,3 p.p. no comparativo mensal e 0,8 p.p. no anual. No total, 2,16 milhões de famílias permanecem com algum tipo de dívida e 787,3 mil estão com contas em atraso.

Os dados são da Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC), realizada mensalmente pela Federação do Comércio de Bens, Serviços e Turismo do Estado de São Paulo (FecomercioSP).

Segundo a Entidade, a inadimplência acima dos 20% é um sinal de alerta aos empresários, pois demonstra que a fragilidade da situação financeira das famílias. Em relação ao endividamento, apesar da elevação vista no mês, ainda é considerado natural e comprova os gastos excedentes de dezembro, sem planejamento das tradicionais despesas do início de ano.

O principal tipo de dívida das famílias continua sendo o cartão de crédito (70,1%). Na segunda posição, ficaram os carnês, com 14,7%, ante os 13,5% de fevereiro. De acordo com a assessoria econômica da FecomercioSP, o crescimento do carnê como modalidade de pagamento pode indicar uma redução por parte dos bancos do acesso ao crédito, fazendo com que os consumidores recorram aos parcelamentos das compras diretamente com as lojas, normalmente menos restritivas na avaliação de dados pessoais.

Para a Entidade, essa tendência do pagamento em carnê pode indicar ao empresário uma alternativa para atrair mais clientes. A Federação recomenda ainda a ampliação do prazo de pagamento, que reduz o valor da parcela e evita a inadimplência. Contudo, é importante atenção ao fluxo de caixa para não causar um efeito reverso.

Segmentação por renda

Na segmentação por renda, as famílias com rendimentos abaixo de dez salários mínimos (SM) impulsionaram o endividamento, 58,7%, ante os 56,4% de fevereiro. Para o grupo com renda superior a dez SM, o endividamento registrou leve queda ao passar de 45,4% para 44,6% em março. O porcentual de inadimplência se manteve estável em ambos os grupos – 24,9% para o abaixo de dez SM e 8,6% para o superior a dez SM.

O porcentual de famílias que disseram não terem condições de pagar suas dívidas também registrou aumento: de 8,5% em fevereiro para 8,7% em março. Segundo a assessoria econômica da FecomercioSP, há um ano, o porcentual era parecido (8,4%). Contudo, são 16,9 mil famílias a mais em 2019 – ao todo, são 342,6 mil lares nessa situação atualmente.

Em relação ao tempo de dívida em atraso, houve elevação, passando de 68 dias em fevereiro para 69 dias em março. Na comparação com o mesmo período do ano passado, o avanço foi de cinco dias. O maior porcentual é o de longo prazo (acima de 90 dias), com 56,4%; no mesmo período de 2018, era de 52,2%.

Entre os endividados, o comprometimento da dívida passou de 7,2 meses em fevereiro para os atuais 7,3 meses. O porcentual mais elevado está no período superior a um ano: 33,2%. De até três meses, 23,1%; de três a seis meses, 21,6%; e de seis meses a um ano, 20,3%.

A FecomercioSP ressalta que o mercado passa por um período de estagnação e a expectativa é que as variáveis econômicas melhorem até meados do segundo semestre com o encaminhamento e a aprovação das principais reformas do governo.

 Metodologia 

A Pesquisa de Endividamento e Inadimplência do Consumidor (PEIC) é apurada mensalmente pela FecomercioSP desde fevereiro de 2004. São entrevistados, aproximadamente, 2,2 mil consumidores na capital paulista.

O objetivo da PEIC é diagnosticar o nível de endividamento e de inadimplência do consumidor. A partir das informações coletadas, são apurados importantes indicadores: nível de endividamento; porcentual de inadimplentes; intenção de pagamento de dívidas em atraso; e nível de comprometimento da renda. Tais indicadores são observados considerando duas faixas de renda.

A pesquisa permite o acompanhamento do nível de comprometimento do comprador com as dívidas e sua percepção em relação à capacidade de pagamento, fatores fundamentais para o processo de decisão dos empresários do comércio e demais agentes econômicos.