“Fui demitido!” E agora?

É uma triste realidade, mas talvez alguém que você conheça tenha sido demitido recentemente. Ou até você mesmo. Os dados sobre a crise atual são alarmantes. Alguns deles:

Segundo informações do IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística, a taxa de desemprego no Brasil ficou em 7,6% em janeiro. Essa é a taxa é a mais alta Para o mês de janeiro, desde 2009, quando chegou a 8,2%.

No meio desse cenário ruim, franquias podem parecer uma saída promissora… Ou será que não? Vale a pena investir meu dinheiro da rescisão? Quanto? Em quê?

O mapa das Franquias conversou com Marcus Quintella, professor e coordenador do MBA em Empreendedorismo e do MBA em Gestão Empresarial da FGV para responder essas perguntas.

Mapa das Franquias: Fui demitido e quero investir em franquias. É seguro comprometer minha reserva financeira? O que devo observar? A partir de quando terei retorno?

Marcus Quintella: O brasileiro é um povo empreendedor por excelência e a abertura de um negócio próprio faz parte do sonho de quase 45% dos brasileiros, segundo pesquisas especializadas, ainda mais no momento atual de crise econômico e aumento do desemprego no país.
Dessa forma, muitas pessoas demitidas logo pensam em utilizar suas indenizações, rescisões e FGTS para abrir um negócio próprio, e a primeira ideia remete às franquias. Certamente, o sistema de franquias é uma opção mais segura para aqueles que não conhecem bem o mercado empresarial, mas isso não quer dizer o empreendedor terá vida fácil e segurança para os seus recursos investidos.
Como todo negócio empresarial, as franquias também têm riscos envolvidos, que devem ser minimizados por meio de planejamento, pesquisa de mercado e conhecimento dos produtos ou serviços que serão oferecidos.
Na prática, o franqueador tem grande interesse na prosperidade da franquia e, por isso, dá todo suporte ao franqueado, minimizando os riscos do negócio. Todavia, um bom plano de negócios não pode ser descartado e é fundamental para o sucesso de qualquer franquia.

Mapa das Franquias: Devo “entrar de cabeça, isto é, investir tudo que tenho?
Marcus Quintella: Quanto ao comprometimento das reservas financeiras, entendo que o empreendedor deve agir com prudência e deixar uma parte do dinheiro recebido na demissão como plano B para um possível fracasso. Cabe lembrar que as estatísticas mostram que cerca de 50% dos pequenos negócios “morrem” antes de completarem o primeiro ano e que 75% não completam cinco anos.
No caso das franquias, essa taxa de mortalidade é mais baixa, não chegando a 5%, mas o risco existe. Os candidatos a franqueados devem observar tudo que está relacionado à franquia que pretende investir, desde fornecedores, concorrentes, mercado, até as características do franqueador, em termos de idoneidade, apoio e tradição. O retorno sobre o capital investido dependerá de muitas variáveis, desde as peculiaridades do próprio negócio e do mercado, até a forma de gestão que será praticada. O plano de negócio apresentará uma estimativa de retorno de lucratividade, rentabilidade e tempo de retorno do capital investido.

Existe aposta infalível?

Mapa das Franquias: Qual seria o setor de franquia mais seguro para investir no momento de crise? E por quê? É importante ter afinidade com a área ou só focar no retorno financeiro?

Marcus Quintella: Seria imprudente e pretencioso apontar um setor de franquia mais seguro que outro, ainda mais num momento de crise como estamos vivenciando. O candidato a investidor em franquias deve procurar marcas consagradas no mercado, preferencialmente com o selo de excelência da Associação Brasileira de Franchising (ABF), condizentes com sua capacidade de investimento e adequadas ao seu perfil de risco, considerando que esse negócio será a fonte de receitas para o seu sustento e de sua família. Entendo que esse tipo de empreendedor em franquias não deve ter foco somente no retorno financeiro, visto que ele não atuará como um investidor ou especulador financeiro, mas, sim, como um homem de negócios que estará à frente da franquia. Dessa forma, torna-se fundamental a afinidade com o tipo de negócio escolhido, que, certamente, será transformada em dedicação e envolvimento para o atingimento do sucesso esperado. Voltando à primeira parte da pergunta, posso comentar sobre os setores mais interessantes para investimentos, não em termos de segurança, mas em termos mercadológicos. O setor de beleza e estética vem crescendo bastante nos últimos anos e há ainda uma tendência de crescimento, mesmo na crise. Esporte e saúde também são setores em expansão. Os tradicionais setores de alimentação e de pet shops continuam em alta. As microfranquias vêm apresentando um crescimento acelerado, especialmente nos setores de serviços domésticos de reparos e manutenção e de cuidadores de pessoas. Vale alertar para o cuidado com as franquias da moda, que tendem a desaparecer em pouco tempo ou serem engolidas por franqueadores mais poderosos.

Liberdade X Responsabilidade

Mapa das Franquias: Um profissional acostumado a ter um patrão terá mais ou menos liberdade seguindo as diretrizes de um franqueador? O que muda?

Marcus Quintella: Doce ilusão essa história que ser dono do próprio negócio acarreta em liberdade de agenda ou inexistência de um chefe controlando sua vida. Muda tudo na vida daquela pessoa que decide investir e empresariar o próprio negócio, pois a dedicação integral é a chave do sucesso. Lembre-se sempre daquele velho ditado popular: “o olho do dono é que engorda o boi”. Não subestime a importância de sua presença à frente do negócio e não delegue a condução da franquia a terceiros, como sócios ou parentes. O modelo de franquia requer disciplina e obediência aos padrões e modelos estabelecidos pelo franqueador, que, na prática, será o seu novo patrão. Além disso, você passará a ter centenas ou milhares de patrões exigentes todos os dias, que são os seus clientes. Pense nisso. Sem esses patrões, a sua franquia fracassará, portanto, trate-os bem e invista no relacionamento com seus clientes, pois isso poderá ser um diferencial de sucesso, mesmo num sistema formatado como o de franquias. O seu grau de liberdade será diretamente proporcional à sua capacidade de gerir o seu negócio e aos seus objetivos de sucesso.

Crise ou oportunidade? Clichê ou dilema?

Mapa das Franquias: Diz o ditado que “crise também é oportunidade”. Isso se aplica ao setor de franquias? Como?

Marcus Quintella: Na contramão da crise econômica que assola o país, surpreendentemente, o setor de franquias cresceu 11,2% no primeiro semestre de 2015, em relação ao mesmo período em 2014, segundo a ABF. O setor de franquias vem demonstrando uma boa resiliência à crise e, por isso, podemos entender que existem muitas oportunidades nesse mercado, ainda mais se considerarmos que existem 2.700 redes de franquias disponíveis no país. As expectativas para este ano ainda são otimistas quanto a um desempenho positivo do setor, talvez um pouco inferior ao crescimento de 8,3% observado em 2015. A validade do ditado em questão sempre dependerá da elaboração de um bom plano de negócios, lastreado por uma pesquisa de mercado bem fundamentada, muito conhecimento sobre o franqueador e muita conversa com alguns franqueados já estabelecidos.

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